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Dia 23 de Maio de 2010

De Villafranca del Bierzo a Liñares

Distância: 32,14Km

Distância até hoje: 651,61km

Tempo gasto: 8:59h

Peregrinação

SANTIAGO DE COMPOSTELA

NOSSAS ORAÇÕES DE HOJE FORAM

PRINCIPALMENTE PARA

25° Dia

Aline, Henrique, Thais, Luana, Lucca, Aída, Luiz, Pablo, Inês, Vinícius, pelo Papa, pela Igreja, nossas famílias e as famílias de todos do Grupo Lilás (pessoa a pessoa citadas nominalmente na oração) e almas de Celso, Juca, Phylomena, Rita, João, Oscarlino, José Maria, Cristina Diana, Nininha, Pedra, Emilson, Ricardo, Silvia, Jacyra, Cecy, Iracema e Cícero

Como estamos sendo bem recebidos em todos os lugares! Todos, além de nos receber bem, confiam em nós. Estamos acostumados, no Brasil, a fechar a conta somente na partida, e após uma conferência do quarto por funcionário do hotel. No Caminho nada disso acontece. Podemos fechar a conta à noite e sair pela madrugada, deixando a chave no balcão da recepção ou na porta do quarto, sem problema. Já fizemos este procedimento mais de uma dezena de vezes.

No último hotel que ficamos, em Villafranca del Bierzo, o dono do hotel se ofereceu para levar o nosso café no quarto, à noite, para que não saíssemos sem alimentação. Deixou uma garrafa térmica com café com leite e madalenas, uns bolos deliciosos , e disse-nos para deixar a chave na porta do quarto quando saíssemos. Em nenhum desses hotéis, ninguém conferiu coisa alguma.

O difícil nessa jornada de dormir um dia em cada lugar, é acordar para ir ao banheiro e nunca saber a direção a tomar. Já batemos o nariz na porta errada, trombamos em móveis e chutamos coisas até encontrar o banheiro. O isolamento acústico das janelas é tao bom que não se ouve nada externo, tanto em hotéis, hostais ou pensões. Não podemos reclamar de nada, Gracas a Deus.

O que torna alguém um peregrino não é o simples deslocamento geográfico até Santiago, mas o aprendizado com as infinitas situações que se vive no dia a dia. A magia do Caminho está na simplicidade das pequenas coisas e na oração.

O grande mistério do Caminho é ser grande, na sua simplicidade. O caminho não é solitário; caminhas-se sempre com Deus. Só Nele a explicação de termos conseguido sair hoje. Nossas dores, inchaços nos pés sumiram.

Levantamos às 5h, arrumamos as mochilas, arrumamos os pés com algodoes, esparadrapos e band-aids, vaselina, álcool de romeiro (um ótimo balsâmico), tomamos nosso café e fomos embora. Hoje a temperatura na saída estava ótima: 17ºC. Edson até animou e tirou a parte de baixo da calca, transformando-a em uma bermuda. A temperatura baixou um pouco mais, pois caminhávamos no vale de um Rio, entre montanhas altíssimas mas, pouco a pouco esquentou muito. Paramos diversas vezes hoje. Nas paradas com bar (6) e em outras beiradas do Caminho para alongarmos e tirarmos um pouco o peso das costas.

Saímos da cidade no asfalto, após percorrermos uns 4Km. Seguimos até Pradela, no Km 9, em uma região belíssima, cheia de verde e flores, lembrando-nos que estamos na primavera. Andamos muito em uma senda de peregrino, ao lado da estrada, muito movimentada, no asfalto. Andar no asfalto não nos agrada muito, mas as trilhas também não são fáceis: muita pedra grande com terra, o que nos obriga a caminhar com cuidado redobrado, para não sofrermos torção nos pés. Passamos por Trabadello, Portela, Ambamestas, todas com lindos rios de águas transparentes, flores nas margens, pontes de pedra e ferro, lindas, e árvores em profusão. Não fosse a preocupação com o sol e a terrível subida para o famoso Cebrero, pararíamos em todos os lugares. O tempo corria...

No Km 19 chegamos a Vega de Valcarce, um povoado onde se inicia a grande subida. Estamos muito próximos da tao esperada Galícia.

Mais 1,5Km chegamos a uma pequena localidade onde tomamos um gatorade com tortilha e descansamos um pouco. Em seguida entramos em Herrerias, um pequeno pueblo (antes disso atravessamos a rodovia e entramos em uma estradinha cujo pavimento logo acabou), com muitas hortas e então começamos a subir de verdade. Saímos de 511metros de altitude e rapidamente fomos para 702m: um horror. Sol, cansaço e quase nenhuma sombra em um sol escaldante. Pusemos a língua para fora e fomos subindo para La Faba (921m). Estrada linda, entre árvores, mas de tao íngreme parecia com uma escada de pedras irregulares, com alguma terra nos intervalos. Todo cuidado era pouco para que não escorregássemos (pedras negras e lisas). Chegamos à Laguna de Castilla, último povoado leonês, e mais 3Km estaríamos na Galícia. Continuamos subindo quando o repórter Edson (veja a gozação da Socorro) anunciou: altitude atual, 1300 metros. Estávamos exaustos e o Cebrero não chegava. Já havíamos tomado uns 3 litros de água e compramos mais 1,5l para aguentarmos o tranco. Tomamos em dois goles (um do edson e um da Socorro). Finalmente chegamos ao Cebrero (este local é muito citado pela literatura, inclusive pelo Paulo Coelho, como um local tremendamente místico), nos 1310m, passando por precipícios inimagináveis. Andávamos à beira deles por trilhas estreitas com muitas pedras e muitos peregrinos. Bastante perigo! Mas a visão do Cebrero foi um clímax. Palhoças galegas (de pedra e palha no telhado) pareciam flutuar. Uma linda igreja de pedra de Santa Maria la Real, da fase pré-românica (sec, IX e X) com uma imagem de Jesus Cristo que foi um bálsamo para o nosso cansaço. As palhoças são de origem Celta , com planta elíptica e telhado à base de uma palha trançada chamada bálago. Algumas delas se transformaram em um museu etnográfico da região. O hotel, restaurante, bar, tudo de pedra bem escura (antiga), tudo é um colírio para os nossos olhos. Uma limpeza total em todo o lugar, apesar da grande quantidade de turistas, já que hoje é domingo (de Pentecostes) e o Cebrero é muito famoso, é o lugar mais místico do Caminho. Continuamos nossa jornada após comprarmos bananas e comermos uns cereais, pois estávamos famintos. Já era tarde e chegaríamos ao hotel após a hora da comida (almoço), na hora da siesta (de 3h às 5h todos dormem). O vendedor de frutas ainda nos presenteou com dois deliciosos morangos de brinde (havíamos comprado duas bananas), pois deve ter ficado com pena de nós.

Descemos pela autovia, em um estreito e perigoso acostamento até nosso destino (era Liñares, por falta de disponibilidade no Cebrero ) que não chegava nunca. A nossa pensão é também supermercado e loja de de implementos agrícolas e peças de tratores, bar e restaurante. Tudo junto. Mas o atendimento foi ótimo. E uma vista lindíssima. Pena que a igreja, pequeníssima, estava fechada. Toda de pedra com um bonito e enorme sino. Igreja de Santo Estevão.

Quantas saudades...

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