Se não tivéssemos a companhia de Santiago, N. S. da Boa viagem e Santa Maria del Camino certamente não teríamos chegado até aqui.

Muitos dos que começaram conosco não são mais vistos. Muitos estão com muitas feridas nos pés só conseguem caminhar de sandálias, outros quase que se arrastam, e nós, bem, nós, apesar das dores, vamos seguindo a programação feita sempre com tempos adequados em cada etapa.

Temos buscado seguir todas as orientações quanto à alimentação, alongamento, sono, cuidados com os pés e, no geral, seguimos em frente.

Tomamos café preparado no próprio quarto, às 6h, e saímos às 6:20h com a temperatura de 10ºC.

O dia dava sinais de querer amanhecer. Tempo e paisagens lindas, estrada de terra paralela à rodovia. Visão de morros nevados misturado com o róseo azul do céu. Córregos produzindo suave ruído. Pássaros cantando aos montes. Ouvimos seus cantares mas não os vemos. Ficam, em geral, o tempo todo dentro dos trigais, plantações de alfafa e, de vez em quando, saem aos bandos. Caminhamos por trilhas lindas, sinuosas, cheias de flores e espinhos. Passamos por cidades, como Villadangos del Paramo e San Martín del Camino sem conhecê-las. Depois de uns bons Km passamos em Puente de Orbigo e Hospital de Orbigo. Lá existe uma ponte belíssima e um casario do século XIV, lindo: pedras, flores nas varandas , onde tomamos um lanche, fomos ao banheiro e fizemos alongamento. Paramos várias vezes para o Edson alongar suas costas, pois percebeu que a cada 3Km, fazendo isto, sentia grande alívio.

O cansaço começou a chegar. Percorremos um longo percurso de 13Km sem pueblos, em cascalho e terra, sempre caminhando em direção aos montes nevados. Pensamos muito e falamos dos amigos que têm a cara do Caminho, como o Marcos e Nena, Dionízio e Elzinha, Nonaka e Elza, Cris e Lorenzato. Como seria bom se estivéssemos juntos. Subimos de 840m a mais de 900m em uma pequena distância quando tivemos uma vista de San Justo e de Astorga. Fomos recebidos no meio de uma linda estrada calçada de pedras roladas, pequenas e grandes, por um senhor muito simpático, de uns 80 anos ou mais, que fazia a sua caminhada diária no sentido oposto ao nosso. Puxou conversa conosco, quis saber de tudo sobre nós. Aliás, todas as pessoas que cruzavam conosco, nessa chegada, nos cumprimentavam com muita simpatia, nos dando as boas vindas. Tudo era lindo, menos o cansaço.

Chegamos a Astorga por uma estrada de terra, onde os motoristas eram tao gentis que diminuíam a marcha de seus veículos, claramente para evitar nos mandar poeira.

Par entrarmos na cidade subimos uma ladeira enorme e cansativa, onde até um corrimão existe, para ajudar os peregrinos. Atravessamos uma muralha romana-medieval para entrarmos no casco antigo de Astorga. Albergues, casas, prédios, igrejas, praças, povo, tudo é charmoso e elegante em Astorga.